Friday, February 8, 2008

acantonamento de pelo menos 70 peticionários das Forças Armadas em Díli.

Díli, Timor-Leste 07/02/2008 14:23 (LUSA)
Temas: Política, governo
** Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa **



Díli, 07 Fev (Lusa) - Na véspera de assinalar seis meses à frente do Governo de Timor-Leste, Xanana Gusmão conseguiu hoje uma pequena vitória com o acantonamento de pelo menos 70 peticionários das Forças Armadas em Díli.

Outros peticionários, segundo o Governo e fontes policiais ouvidas hoje pela Agência Lusa, estão a caminho da capital a partir dos distritos ocidentais.

O Executivo "precisa de mostrar depressa que está a governar", segundo um diplomata ocidental ouvido pela Lusa em Díli.

Dia 08 de Fevereiro marca o segundo aniversário da saída dos quartéis de cerca de 600 peticionários, descontentes com alegadas discriminações no seio das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).

Os 70 homens e uma mulher, com algumas famílias, albergados num recinto do bairro de Kampung Alor, no centro de Díli, constituem a primeira indicação, mesmo que ténue, de resolução dos problemas que asfixiam o país desde a crise de 2006.

O acantonamento dos peticionários acontece na mesma semana em que o Governo começou a redução para metade da ajuda alimentar nos campos de deslocados de Díli.

A herança esmagadora da crise, no entanto, continua no terreno: um major fugitivo, Alfredo Reinado, centenas de peticionários e cerca de cem mil deslocados internos, o que equivale a um décimo da população do país.

O IV Governo Constitucional, que tomou posse em 08 de Agosto, não alterou o essencial deste triângulo nem tocou nas causas profundas da instabilidade do país, que estão intactas.

"Se olharmos para o panorama geral, há estabilidade relativa em Timor-Leste, mas se olharmos para os casos individuais, a estabilidade é frágil", resumiu hoje o chefe da Missão Integrada das Nações Unidas no país (UNMIT), Atul Khare.

O chefe da UNMIT respondia a uma questão da Lusa sobre como interpretou a explosão de um engenho artesanal quarta-feira à noite, em Díli, e os "tiros de aviso" disparados pelo grupo do major fugitivo Alfredo Reinado, horas antes, em Ermera, a sudoeste da capital.

Reinado, acusado de vários crimes, é objecto de dois processos, um judicial e outro negocial, que entraram em rota de colisão através dos seus protagonistas, o Presidente da República, José Ramos-Horta, e o juiz internacional Ivo Rosa.

O primeiro-ministro deixou claro, em declarações à Lusa, que não está satisfeito com a largueza de manobra que o Estado tem dado a Alfredo Reinado.

"Devia-se ser mais duro com Reinado", afirmou Xanana Gusmão sobre o homem que o acusou recentemente de ser o "cérebro" da crise de 2006.

Apesar de estar em marcha a Reforma do Sector de Segurança, as fragilidades institucionais do aparelho de segurança timorense são persistentes.

A polícia timorense "está sobrecarregada com uma proliferação de unidades e funções de policiamento" com "mais de 40 unidades em torno de duas linhas funcionais de comando", segundo um documento citado em Janeiro num relatório do International Crisis Group.

"Actualmente, a maior parte das unidades não está no máximo de capacidade ou não funciona de todo", acrescentou o ICG.

"Se a situação não explode, é porque a Fretilin, como força maioritária, não quer que haja violência", afirmou o secretário-geral do partido mais votado nas legislativas de Junho de 2007, Mari Alkatiri, à Lusa.

O líder da Fretilin fez um balanço demolidor dos seis meses da Aliança para Maioria Parlamentar (AMP), referindo "o escangalhamento do Estado, que tinha um aparelho recém-estabelecido e, por isso, ainda não consolidado".

Sobre o próprio Executivo, ao qual a Fretilin começou a designar como I Governo Inconstitucional, Mari Alkatiri "salva" os ministros da Saúde e dos Negócios Estrangeiros, "com certa capacidade".

"Por mais esforço que faça, não encontro mais nenhum. Todos os outros são ao nível do primeiro-ministro", declarou Mari Alkatiri à Lusa.

"Rebentou-se com todo o sistema. O Orçamento Geral do Estado para 2008 foi feito para se transformar o Estado em instituição de misericórdia e o governo numa organização de caridade", acusou também o ex-primeiro-ministro.

Para a Fretilin, "só há uma solução para isto, a demissão deste governo ilegítimo e a convocação de eleições antecipadas".

Para lá da crispação e da violência verbal, "há sinais recentes de que a Fretilin pode concordar com uma colaboração na governação da AMP que não tem que passar por eleições nem pela entrada no Governo", afirmou à Lusa um responsável da UNMIT que não quis ser identificado.

"É interessante também notar que a AMP ainda não excluiu expressamente a realização de eleições antecipadas", segundo a mesma fonte.

Outras fontes políticas timorenses e internacionais em Díli concordam com essa análise, como adiantou outro diplomata ocidental à Lusa.

"Se a AMP governar bem em 2008, pode estar interessada em concorrer como partido e ganhar a legitimidade eleitoral que a Fretilin lhe recusa agora. Ou a Fretilin pode deixar de estar interessada em eleições antes de 2012", afirmou esse observador.



Lusa/Fim

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